sábado, 10 de agosto de 2013

O Ópio dos Intelectuais

"Em rigor, o ateísmo acredita que sabe, mas não sabe que acredita"


 

Por João Carlos Espada


Uma ‘nova’ moda percorre a Europa: a moda do ateísmo militante. Na inevitável França, multidões assistem às palestras do novo «philosophe» de serviço: Michel Onfray, autor de ‘Traité d’athéologie’, um «best-seller» entre os nativos, bem como em Espanha e Itália. A sua ‘Universidade Popular de Caen’, onde não há exames nem diplomas(sic), mas existe o inevitável subsídio do governo local, fiéis atentos disputam lugares nos auditórios. A doutrina oficial chama-se aí ‘hedonismo ético’.


Na Alemanha, um novo «think tank do Iluminismo» propõe guerra aberta a todas as religiões. Em Itália, um ateísta convicto acusou a Igreja católica de fraude junto do Tribunal Europeu dos Direitos Humanos: segundo ele, Cristo nunca existiu. Até em Inglaterra, anfitriã de um Iluminismo razoável no século XVIII, as hostes se agitam. A dormente ‘National Secular Society’ anuncia que duplicou o número de sócios (para 7 mil) e promove entusiásticos comícios de propaganda contra a religião.

Numa sociedade livre, o ateísmo deve poder ser livremente expresso como filosofia particular. Entre outras vantagens, isso tornará mais claro que uma boa parte (embora não toda) do secularismo que é reivindicado para o Estado apenas exprime uma ideologia particular. Cabe aos ateus explicarem porque deveria a sua ideologia particular receber a chancela do Estado.

O principal apelo popular do ateísmo actual parece residir na sua alegação de que a fonte do ódio e da intolerância reside na religião — um ponto que tem sido repetido pelo reputado filósofo Elton John. Como explicar, nesse caso, que os dois grandes totalitarismos do século XX, o nacional-socialismo e o comunismo, tenham sido ateus? Como explicar que a União Soviética tenha sido o primeiro Estado a declarar o ateísmo como doutrina oficial?

No plano político, resta saber se o ateísmo está disposto a combater o fundamentalismo islâmico — a verdadeira ameaça actual à liberdade — ou se descobriu apenas outro pretexto (condenar todas as religiões) para não o enfrentar.

No plano filosófico, o ateísmo encerra dificuldades enormes — à luz da razão. Uma, crucial, reside na colossal ambição do racionalismo dogmático que subjaz ao ateísmo: a de que a razão pode fornecer pressupostos isentos de pressupostos. Mas a razão não consegue explicar porque existe algo em vez de nada. Em rigor, o ateísmo acredita que sabe, mas não sabe que acredita. Neste sentido, como escreveu os audoso Raymond Aron, limita-se a ser o ópio dos intelectuais.

Fonte: http://esfrldepfilosofia.no.sapo.pt/JCEspada.pdf

Um comentário:

  1. Revelando as Religiões
    As religiões são apenas superstições mais elaboradas. Mais elaboradas porque ao longo de sua formação seus criadores foram incorporando seus rituais, seus tabus, mitos, divindades, dogmas, suas narrativas, primeiro orais, depois escritas, forjaram seus livros, sua doutrina, teologia, sua literatura, etc. As crenças foram perpetuadas através da doutrinação, repetição, usos, costumes e tradições.
    (Ver mais em : http://irreligiosos.ning.com/profiles/blogs/revelando-as-religi-es-1 )

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