sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Noturno

Um maravilhoso soneto do poeta Bruno Tolentino.





Não sou o que te quer. Sou o que desce
a ti, veia por veia, e se derrama
à cata de si mesmo e do que é chama
e em cinza se reúne e se arrefece.

Anoitece contigo. E me anoitece
o lume do que é findo e me reclama.
Abro as mãos no obscuro. Toco a trama
que lacuna a lacuna amor se tece.

Repousa em ti o espanto que em mim dói,
noturno. E te revolvo. E estás pousada,
pomba de pura sombra que me rói.

E mordo teu silêncio corrosivo,
chupo o que flui, amor, sei que estou vivo
e sou teu salto em mim, suspenso em nada.


(In: Anulação & outros reparos. Rio de Janeiro: Topbooks, 1998, p. 167)

Postagens populares (últimos 30 dias)

Postagens Populares (Última Semana)

Total de visualizações de página

Filmes

Formulário de contato

Nome

E-mail *

Mensagem *