sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

É Proibido Proibir



Por Mario Vargas Llosa





Já faz alguns anos vi em Paris, na televisão francesa, um documentário que ficou gravado em minha memória; de vez em quando os acontecimentos cotidianos atualizam suas imagens e lhes conferem estrondosa vigência, sobretudo quando se fala do problema cultural maior de nossos dias: a educação. 

sábado, 27 de setembro de 2014

Eu cantarei






Fernando Pessoa (Álvaro de Campos)


I


Eu cantarei,
Quando a manhã abrir as portas do meu esforço,
Eu cantarei,
Quando o alto-dia me fizer fechar os olhos,
Eu cantarei,
Quando o crepúsculo limar as arestas,
Eu cantarei,
Quando a noite entrar como a Imperatriz vencida
Eu cantarei a Tua Glória e o meu desígnio.
Eu cantarei
E nas estradas ladeadas por abetos,
Nas áleas dos jardins emaranhados,
Nas esquinas das ruas, nos pátios
Das casas-de-guarda,
A Tua Vitória entrará como um som de clarim
E o meu Desígnio espera-la-á sem segundo pensamento.

domingo, 8 de junho de 2014

Degradação da vida e da morte



Por Nelson Rodrigues

1. Certa vez, numa de minhas “Confissões”, escrevi, por outras palavras, o seguinte: – “Na hipótese de uma guerra nuclear, acho que perderia pouco, muito pouco”. Eu disso isso e não sei, até hoje, se me arrependo de o ter dito. De vez em quando, fico a pensar no fim do mundo. imaginemos: – não há mais vida humana, foi raspado, com palha de aço, todo e qualquer vestígio de vida humana. Não sobrou nem mesmo uma folha de alface, ou de avenca, ou de couve. Não mais nada, nem micróbios. Não existiriam nem mesmo as estrelas, porque ninguém viveria para vê-las.

sábado, 8 de março de 2014

Um ano depois da morte de Chávez, a cubanização forçada da Venezuela


Qual é o legado de Hugo Chávez? Ao fim e ao cabo, governou ao seu capricho durante catorze anos (1999-2013). O  mais longo governo da história da Venezuela, à exceção de Juan Vicente Gómez (1908-1935), outro militar de mão de ferro que morreu no comando. Digamos rapidamente: a herança que Chávez deixou a seus atribulados compatriotas foi a cubanização da Venezuela.

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

O Critério Idiota

O que está havendo com o mundo? Ao invés de julgarmos as pessoas por seus méritos, estamos julgando pelo seu nível de “coitadisse”: quanto mais o sujeito é um “coitado” mais ele parece ser digno de todas as honras. Não há nenhuma grandeza em ser miserável, como muitos parecem acreditar. Vale lembrar o trecho de Bertolt Brecht:

“Não há sentido na nossa miséria; fome não é prova de fortaleza, é apenas não ter comido!... Esforço não é vergar as
costas e arrastar, não é mérito!...
A miséria não é condição das virtudes, meus amigos!... E não me venham com a beleza das riquezas que fomos capazes
de produzir!...
Se a nossa gente fosse abastada e feliz, aprenderia as virtudes da abastança e da felicidade. Mas hoje, as virtudes dos
pobres nascem... da pobreza!
Eu abomino isso! Sim, abomino! Ou vocês querem que eu minta a nossa gente?”

Pena que as esquerdas de nossos dias tenham descoberto muitas “virtudes” na miséria e façam de tudo para mantê-la e até para elevá-la à categoria de critério último de julgamento. Esse critério ainda nos levará a afirmar que qualquer garoto que batuque um tambor é mais importante que Beethoven.

sábado, 8 de fevereiro de 2014

Bakunin contra Marx



“(...)  os marxistas dizem que esta minoria será formada por trabalhadores. Sem dúvida se tratará de antigos trabalhadores que, uma vez que se convertam em governantes ou representantes do povo, deixam de ser trabalhadores e começam a olhar com desdém para a classe trabalhadora desde o ponto de vista da autoridade de estado, pois representam não o povo, mas sim a eles mesmos e seu próprio desejo de governar os demais. Qualquer um que duvide disso não sabe nada da natureza humana... Os termos “socialista científico” e “socialismo científico”, que  encontramos incessantemente na obra de lassalianos e marxistas, bastam para provar que o denominado governo do povo não será mais que um despotismo sobre as massas, exercido por uma nova e pequena aristocracia de reais ou falsos “cientistas”. O povo, inculto, estará completamente isento da tarefa de governar e se verá forçado a formar parte do rebanho dos governados. Pequena emancipação!... Eles (os marxistas) pensam que só uma ditadura, a sua por suposto, pode trazer a liberdade ao povo;  nós respondemos que uma ditadura no pode ter outro fim que perpetuar-se a si mesma, e que não pode engendrar nada além de escravidão no povo a ela submetido. A liberdade só pode criar-se a partir da liberdade, ou seja, a partir de todo o povo e pela livre organização das massas trabalhadoras desde baixo”. ( Bakunin, Estatismo y anarquia. Citado por  Leszek Kolakowski em Las principales corrientes del marxismo. Tradução de Badou Sarcass)

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Toda nudez será castigada




Prostituta e/ou santa? É a pergunta a ser feita em relação a personagem Geni da famosa peça "Toda Nudez Será Castigada", escrita por Nelson Rodrigues em 1965.

Já havia lido a peça e assistido ao filme homônimo feito por Arnaldo Jabor em 1973, mas confesso que a montagem da Cia. Arlecchino dirigida por Kalluh Araújo impressionou-me profundamente. As atuação brilhantes de Cléo Carmona (Geni) e Paulo Rezende (Patrício) dão um sabor especial ao espetáculo.

A peça mostra o drama de Herculano, um viúvo que, tendo prometido ao filho nunca mais se envolver com uma mulher após a morte da esposa, acaba se apaixonando pela prostituta Geni, graças as artimanhas de seu cínico irmão Patrício. O tom dramático da peça gira em torno do problema do sexo como força avassaladora capaz de destruir a ordem instaurada. Ao mesmo tempo, é também o que redime o ser humano. Geni, personagem que lembra muito a Sônia (prostituta de “Crime e Castigo” de Dostoiévski, livro que Nelson admirava muito), é aquela que arruína e redime o destino de todos os outros personagens: Herculano, As três tias (que, como Moiras, buscam tecer o destino dos sobrinhos) e o jovem Serginho. O único que passa aparentemente imune a qualquer transformação é o irmão de Herculano, Patrício, o niilista da peça, o personagem para o qual não existe salvação.

O cenário da peça merece uma atenção especial: três cilindros de metal que, quando girados, revelam cada um dos ambientes da peça. A trilha sonora vai da Ave Maria de Schubert a Waldick Soriano. Em um momento da peça as três tias cantam juntas “O Fortuna”, trecho de Carmina Burana de Carl Orff, o que fortalece a analogia com as mitológicas Moiras.

Em certo trecho de “Crime e Castigo”, Raskólnikov se ajoelha aos pés da prostituta Sônia e, ao ser indagado por ela acerca daquela ação, responde Raskólnikov: “Eu não me ajoelhei diante de ti, mas diante de toda a dor humana”. Impossível não recordar tal cena quando, ao fim da peça, Geni aparece crucificada, como um novo Cristo, “qui tollit peccata mundi”. A peça possui uma força rara de se ver no teatro brasileiro atual. Vale a pena assistir.

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Ninfomaníaca, ou o sexo como inferno




Assisti no último do domingo ao novo filme do diretor dinamarquês Lars von Trier, "Ninfomaníaca". Trata-se de um excelente filme. É um dos únicos dois filmes que conheço (o outro é "Shame", de Steve McQueen) que trata o sexo não como uma panaceia redentora e sim como o INFERNO que ele é.

No filme, Joe (personagem vivida por Charlotte Gainsbourg), uma ninfomaníaca que vive a consciência de sua tragédia, conta sua história para um velho que lhe oferece ajuda. Ela, mesmo de uma perspectiva "não-religiosa", insiste em considerar-se uma pecadora; uma pessoa má. Conta suas "aventuras": a amizade com pai; os amantes; as feridas que provocou. Sempre com a consciência do "vício" e da impossibilidade de lutar contra a vontade cega que lhe tirava qualquer possibilidade de controle. 

Impossível não relacionar a personagem principal do filme aos personagens esmagados pelo vício e pela culpa que aparecem nos romances de Dostoiévski. Impossível não lembrar de Marmeládov e seu alcoolismo suicida. 

Ao contrário do que pensam alguns progressistas, o sexo não liberta, mas sim escraviza e, no extremo, desumaniza. 


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