quarta-feira, 18 de maio de 2011

Aula Inaugural

Um belíssimo poema de Mário Quintana:



Aula Inaugural

É verdade que na Ilíada não havia tantos heróis
Como na guerra do Paraguai
Mas eram bem falantes
E todos os seus gestos eram ritmados como num balé
Pela cadência de metros homéricos.
Fora do ritmo só a danação.
Fora da poesia não há salvação.
A poesia é dança e a dança é alegria.
Dança, pois, teu desespero, dança.
Tua miséria, teus arrebatamentos,
Teus júbilos
E,
Mesmo que temas imensamente a Deus,
Dança como David diante da Arca da Aliança;
Mesmo que temas imensamente a morte
Dança diante da tua cova.
Tece coroas de rimas...
Enquanto o poema não termina
A rima é como uma esperança
Que eternamente se renova.
A canção, a simples canção, é uma luz dentro da noite.
(Sabem todas as almas perdidas...)
O solene canto é um archote nas trevas.
(Sabem todas as almas perdidas...)
Dança, encantado dominador de monstros,
Tirano das esfinges,
Dança, Poeta,
E sob o aéreo, o implacável, o irresistível
Ritmo de teus pés,
Deixa rugir o Caos atônito...

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