quarta-feira, 3 de abril de 2013

Oscar, o stalinista



Certa vez, numa entrevista concedida à revista “Playboy”, Gilberto Freyre - autor de “Casa Grande & Senzala”, o livro clássico que revelou a importância do negro na formação histórica da sociedade brasileira - incluiu o arquiteto Oscar Niemeyer na sua lista de sujeitos proeminentes que considerava burro. Aliás, mais do que burro, o mestre de Apipucos o tinha na conta de sujeito chato e muito ignorante, um tipo de pessoa com a qual seria sempre difícil manter-se uma conversa interessante. (Ah, agora me lembro: a entrevista foi concedida ao jornalista Ricardo Noblat, então repórter da Veja, ou coisa assim, no início dos anos 80).


Bem, cabe então a pergunta: por que Gilberto Freyre, homem educado e sensível, um “scholar” reconhecido mundialmente, diria tais coisas de brasileiro proeminente, tido por todos como um arquiteto genial? Quem quiser saber a resposta basta dar uma olhada na entrevista que Niemeyer deu a “Sras & Srs” (S. Paulo, ano 3 - Nº 17 – R$ 8.00), revista de tiragem reduzida. O que o arquiteto diz aí, sob forma de opinião, é coisa que não só se insere no campo da ignorância e da chatice mas, o que é mais lamentável, transita na órbita do fanatismo mórbido ou da demência senil. Fosse o arquiteto considerado de “direita”, ou mesmo um simples “reacionário” – e, no ato, logo após a publicação da entrevista seria cuspido e jogado às feras, por força do deliberado desprezo aos fatos históricos incontestáveis ou, pior ainda, do manifesto desdém em face do sofrimento humano ocasionado pelo stalinismo.  

O que Oscar Niemeyer se permite dizer, mesmo que restrito ao universo do comunismo marxista-leninista, quase sempre dispensado do esforço de pensar - não está no gibi. Por exemplo, indagado sobre os recentes e imperdoáveis fuzilamentos ordenados por Fidel Castro em Cuba, levando ao paredón alguns jornalistas, o gênio da arquitetura assume o ardor fanático: “Logo que me perguntaram sobre isso, não precisei analisar nada, eu sabia que, se ele tinha providenciado esse fuzilamento é porque era importante. E pronto. Me manifestei logo favorável. É um assunto que não discuto. Acho que o importante é sermos honestos conosco mesmos. Então, eu reagi assim. Estou de acordo com ele. Continuo. A revolução é importante para ele, é importante pro povo cubano. Acho o Fidel fantástico. Acho que é o líder da América Latina”. 

Para Niemeyer, que raciocina em termos de palavras de ordem e chavões ideológicos, os 47 anos da ditadura sanguinária de Castro é “uma questão de ser honesto com ele mesmo”. O homem não leva em conta os três milhões de cubanos que vivem exilados, as dezenas de milhares de vítimas que foram (e são) trucidadas nos campos de concentração e tortura, nas prisões infectas da ilha-cárcere, nem muito menos da fome endêmica que aflige há décadas o povo cubano. Para ele, não é preciso analisar nada. O que vale é a permanência, a todo custo, do mito Fidel.

Mais adiante, referindo-se a Mao Tsé-tung, o genocida que levou à morte mais de 100 milhões de chineses, o Mao degenerado que mantinha um harém de virgens adolescentes para estuprar “quando necessário”, o arquiteto genial não se faz de rogado: “Foi uma grande figura. Fez a marcha dele. A China é um país fantástico hoje...”.

E sobre o camarada Stalin, carniceiro responsável pelas deportações e a morte planejada de 60 milhões de russos só na época do Grande Terror, o stalinista Oscar, entre outras preciosidades, justifica: “O Stalin, quando mandou fuzilar os generais russos é porque era preciso; eles eram coniventes com os alemães. Stalin foi uma figura fantástica. É só você imaginar que, quando os alemães estavam dentro de Stalingrado a palavra de ordem dele foi: pra Berlim! É fantástico...”.

Os leitores já perceberam que, para o arquiteto, todo tipo de comunista canalha é...“fantástico”! Mas fantástico mesmo é o tamanho de sua má fé ou da ignorância cega que cultua. De fato, quem foi conivente com Hitler foi o próprio Stalin, num pacto assinado entre Ribbentrop e Molotov, em agosto de 1939, que permitiu ao Führer começar a 2ª Grande Guerra invadindo a Polônia, ocasião em que o Koba russo ergueu uma taça e brindou: “Eu sei o quanto o povo alemão ama o seu Führer e é por isso que quero beber à sua saúde” (“Hitler”, Joachim Fest, Nova Fronteira, 1976). Anos antes, durante a 1ª Guerra Mundial, o cerebral (e sifilítico) Lênin, para levar o bolchevismo ao poder, tinha feito inúmeras concessões e doado parte da Rússia à Alemanha de Hindenburg, num acordo secreto assumido com o chanceler germânico Bethmann Hollweg (“A People`s Tragedy”, Orlando Figes, London, 1996). 

No “setor brasileiro”, o stalinista Oscar acha que o grande estadista ainda é o companheiro Lula. Ele “é correto” e “quer mudar” – pontifica. O arquiteto passa por cima de tudo, deixa de lado os milhões de reais doados à Lulinha, o filho, o escândalo avassalador do Mensalão, as quedas estrondosas de Zé Dirceu, Palloci, Genoíno, Silvinho, Delúbio Soares e Gushiken, os assassinatos de Celso Daniel e Toninho de PT, em suma, esquece o apodrecimento institucional e político do País sob a égide do PT e proclama alto e bom som que Lula está certo.

Tesconjuro! Alguém precisa, com urgência, internar Oscar Niemeyer numa clínica psiquiátrica. O fato de ser considerado arquiteto genial não lhe dá o direito de sair por aí, leso e louco, a proferir monstruosidades. Um aluno de arquitetura que, por acaso, se defrontar com uma entrevista assim, na certa vai pensar que o mestre está com a razão – e não está, em absoluto. A n&atild e;o ser que ele diga todas essas barbaridades de propósito, para formar novas levas de fanáticos. Neste caso, já não está aqui quem falou.

Junho de 2006

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