Certa vez, numa entrevista concedida à revista “Playboy”, Gilberto Freyre - autor de “Casa Grande & Senzala”,
o livro clássico que revelou a importância do negro na formação
histórica da sociedade brasileira - incluiu o arquiteto Oscar Niemeyer
na sua lista de sujeitos proeminentes que considerava burro. Aliás, mais
do que burro, o mestre de Apipucos o tinha na conta de sujeito chato e
muito ignorante, um tipo de pessoa com a qual seria sempre difícil
manter-se uma conversa interessante. (Ah, agora me lembro: a entrevista
foi concedida ao jornalista Ricardo Noblat, então repórter da Veja, ou coisa assim, no início dos anos 80).
Bem, cabe então a pergunta: por que Gilberto Freyre, homem educado e sensível, um “scholar”
reconhecido mundialmente, diria tais coisas de brasileiro proeminente,
tido por todos como um arquiteto genial? Quem quiser saber a resposta
basta dar uma olhada na entrevista que Niemeyer deu a “Sras & Srs”
(S. Paulo, ano 3 - Nº 17 – R$ 8.00), revista de tiragem reduzida. O que
o arquiteto diz aí, sob forma de opinião, é coisa que não só se insere
no campo da ignorância e da chatice mas, o que é mais lamentável,
transita na órbita do fanatismo mórbido ou da demência senil. Fosse o
arquiteto considerado de “direita”, ou mesmo um simples “reacionário” –
e, no ato, logo após a publicação da entrevista seria cuspido e jogado
às feras, por força do deliberado desprezo aos fatos históricos
incontestáveis ou, pior ainda, do manifesto desdém em face do sofrimento
humano ocasionado pelo stalinismo.
O
que Oscar Niemeyer se permite dizer, mesmo que restrito ao universo do
comunismo marxista-leninista, quase sempre dispensado do esforço de
pensar - não está no gibi. Por exemplo, indagado sobre os recentes e
imperdoáveis fuzilamentos ordenados por Fidel Castro em Cuba, levando ao
paredón alguns jornalistas, o gênio da arquitetura assume o ardor
fanático: “Logo que me
perguntaram sobre isso, não precisei analisar nada, eu sabia que, se ele
tinha providenciado esse fuzilamento é porque era importante. E pronto.
Me manifestei logo favorável. É um assunto que não discuto. Acho que o
importante é sermos honestos conosco mesmos. Então, eu reagi assim.
Estou de acordo com ele. Continuo. A revolução é importante para ele, é
importante pro povo cubano. Acho o Fidel fantástico. Acho que é o líder
da América Latina”.
Para
Niemeyer, que raciocina em termos de palavras de ordem e chavões
ideológicos, os 47 anos da ditadura sanguinária de Castro é “uma questão de ser honesto com ele mesmo”.
O homem não leva em conta os três milhões de cubanos que vivem
exilados, as dezenas de milhares de vítimas que foram (e são) trucidadas
nos campos de concentração e tortura, nas prisões infectas da
ilha-cárcere, nem muito menos da fome endêmica que aflige há décadas o
povo cubano. Para ele, não é preciso analisar nada. O que vale é a
permanência, a todo custo, do mito Fidel.
Mais
adiante, referindo-se a Mao Tsé-tung, o genocida que levou à morte mais
de 100 milhões de chineses, o Mao degenerado que mantinha um harém de
virgens adolescentes para estuprar “quando necessário”, o arquiteto
genial não se faz de rogado: “Foi uma grande figura. Fez a marcha dele. A China é um país fantástico hoje...”.
E
sobre o camarada Stalin, carniceiro responsável pelas deportações e a
morte planejada de 60 milhões de russos só na época do Grande Terror, o
stalinista Oscar, entre outras preciosidades, justifica: “O
Stalin, quando mandou fuzilar os generais russos é porque era preciso;
eles eram coniventes com os alemães. Stalin foi uma figura fantástica. É
só você imaginar que, quando os alemães estavam dentro de Stalingrado a
palavra de ordem dele foi: pra Berlim! É fantástico...”.
Os
leitores já perceberam que, para o arquiteto, todo tipo de comunista
canalha é...“fantástico”! Mas fantástico mesmo é o tamanho de sua má fé
ou da ignorância cega que cultua. De fato, quem foi conivente com Hitler
foi o próprio Stalin, num pacto assinado entre Ribbentrop e Molotov, em
agosto de 1939, que permitiu ao Führer começar a 2ª Grande Guerra
invadindo a Polônia, ocasião em que o Koba russo ergueu uma taça e
brindou: “Eu sei o quanto o povo alemão ama o seu Führer e é por isso que quero beber à sua saúde” (“Hitler”,
Joachim Fest, Nova Fronteira, 1976). Anos antes, durante a 1ª Guerra
Mundial, o cerebral (e sifilítico) Lênin, para levar o bolchevismo ao
poder, tinha feito inúmeras concessões e doado parte da Rússia à
Alemanha de Hindenburg, num acordo secreto assumido com o chanceler
germânico Bethmann Hollweg (“A People`s Tragedy”, Orlando Figes, London, 1996).
No
“setor brasileiro”, o stalinista Oscar acha que o grande estadista
ainda é o companheiro Lula. Ele “é correto” e “quer mudar” – pontifica. O
arquiteto passa por cima de tudo, deixa de lado os milhões de reais
doados à Lulinha, o filho, o escândalo avassalador do Mensalão, as
quedas estrondosas de Zé Dirceu, Palloci, Genoíno, Silvinho, Delúbio
Soares e Gushiken, os assassinatos de Celso Daniel e Toninho de PT, em
suma, esquece o apodrecimento institucional e político do País sob a
égide do PT e proclama alto e bom som que Lula está certo.
Tesconjuro!
Alguém precisa, com urgência, internar Oscar Niemeyer numa clínica
psiquiátrica. O fato de ser considerado arquiteto genial não lhe dá o
direito de sair por aí, leso e louco, a proferir monstruosidades. Um
aluno de arquitetura que, por acaso, se defrontar com uma entrevista
assim, na certa vai pensar que o mestre está com a razão – e não está,
em absoluto. A n&atild
e;o ser que ele diga todas essas barbaridades de propósito, para formar
novas levas de fanáticos. Neste caso, já não está aqui quem falou.
Junho de 2006
Por Ipojuca Pontes no livro "A Era Lula: Cronica de um desastre anunciado"
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